DENISE LUNA
DO RIO
DO RIO
A maior empresa brasileira chega aos 60 anos com muitos motivos para comemorar, mas também com muitas incertezas pela frente.
Dona de valiosas reservas no pré-sal, com ou sem futuros leilões, a
Petrobras está com o caixa fragilizado e depende de uma radical mudança
na política de ajuste de preços dos combustíveis para evitar uma nova
capitalização, medida que seria considerada trágica pelo mercado.
Editoria de Arte/Folhapress |
Na última capitalização, em 2010, a empresa conseguiu R$ 120 bilhões ao
emitir mais ações. Mas diluiu os acionistas minoritários e fortaleceu a
presença do governo no capital da companhia.
A nova injeção de recursos se faz necessária para garantir a realização
do seu ambicioso plano de negócios, que pulou de um patamar de U$ 5
bilhões por ano na década passada, para US$ 42 bilhões em 2012. Sem uma
nova política de ajuste de combustíveis, o mercado avalia que a
capitalização será o caminho mais provável, mas só deve ocorrer depois
das eleições presidenciais, em 2014.
Este ano, a empresa já captou US$ 11 bilhões em bônus para cumprir os
investimentos previstos de US$ 46 bilhões em 2013. A companhia não pode,
porém, aumentar ainda mais a sua dívida, sob o risco de perder o grau
de investimento concedido por agências de rating. De 2009 até hoje, o
endividamento da Petrobras cresceu 210%.
PERFIL DAS DÍVIDAS
A Moody's já classificou o panorama das dívidas da companhia como
negativo, apesar de manter o grau de investimento. Preocupada, a
Standard & Poor's convocou uma reunião com a presidente da
Petrobras, Graça Foster, que pediu paciência à agência, "porque estamos
chegando lá", argumentou Graça. Sem o grau de investimento, a empresa
teria que captar recursos a um preço mais elevado no mercado.
O temor do mercado é de que com o caixa enfraquecido e sem poder captar,
a empresa tenha como único caminho a capitalização e, a exemplo do que
ocorreu em 2010, os acionistas minoritários sejam diluídos, com o
governo ganhando cada vez mais força no comando da petroleira.
INSTRUMENTO DE POLÍTICA
Enfraquecida pelo seu constante uso como instrumento de política
pública, a empresa negocia no momento possíveis mudanças nos ajustes de
preços com o seu controlador majoritário, a União, que teme o impacto
inflacionário que teria uma equiparação dos preços da gasolina e do
diesel com o praticado no mercado externo.
A defasagem, que vem oscilando de acordo com o humor do mercado
internacional, chegou a significar uma diferença de preços de 30% para
cada um dos dois combustíveis este ano.
Hoje, por questões sazonais, gira em torno dos 11% para a gasolina e 18%
para o diesel, segundo cálculo do diretor do Centro Brasileiro de
Infraestrutura, Adriano Pires.
As perdas passadas por conta da defasagem, de cerca de R$ 1 bilhão por
mês, não poderão ser recuperadas. O aumento de preços de combustíveis
este ano, tema de todas as reuniões do Conselho de Administração da
estatal, presididas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, guardião da
inflação, não deverá passar de 5% a 6%, o que resolve apenas em parte o
problema do caixa da companhia.
60 ANOS EM SETE
Por outro lado, a Petrobras chega aos 60 anos com uma grande experiência
em águas ultraprofundas, o que a habilita a comandar no país a operação
das grandes descobertas feitas no pré-sal, um tesouro classificado pela
presidente Dilma Rousseff como "bilhete premiado", e que vai levar a
empresa a produzir em sete anos o mesmo volume que levou 60 anos para
conseguir.
Fundada em 1953 pelo então presidente Getúlio Vargas, para garantir a
independência econômica do país, a estatal deu um salto tecnológico com o
fim da ditadura militar e posterior quebra do monopólio do mercado de
petróleo, em 1997.
O patamar de produção passou de cerca de 600 mil barris diários na época
do monopólio, para cerca de 2 milhões de barris em 2011, sofrendo
depois disso um recuo para patamares de 2009 (1,9 milhão de barris) após
uma série de paradas programadas para manutenção, atraso na entrega de
novas plataformas, entre outros contratempos.
A empresa, porém, tem como meta dobrar a produção até 2020, com ajuda do
pré-sal, para 4,2 milhões de barris diários. Sem refinarias para
processar todo esse petróleo no Brasil, a perspectiva é de que a
companhia se torne uma grande exportadora nesse período, de pelo menos 1
milhão de barris de petróleo.
Esse número poderá ser ainda maior depois que a empresa começar a produzir o petróleo do campo de Libra, daqui a cerca de cinco anos, a maior descoberta já feita pela empresa no país e que será leiloado no próximo dia 21 de outubro.
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