Aiuri Rebello
Do UOL, em Brasília
Do UOL, em Brasília
A culpa pelo atraso de obras em seis dos 12 aeroportos brasileiros em
capitais que receberão a Copa do Mundo no ano que vem é dos engenheiros
brasileiros, que são ruins e elaboram projetos mal feitos. Na hora da
execução, todo o planejamento e cálculos tem de ser refeitos e a obra
atrasa, além de ficar de mais cara. Essa é a explicação do
ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da
República, Wellington Moreira Franco, para o problema.
"Os atrasos não acontecem por falta de dinheiro ou de vontade, é por
responsabilidade", continuou ele. "Os projetos que pegamos para executar
são muito ruins, e temos refazer todos eles", afirmou Franco a dezenas
de jornalistas editores de jornais regionais durante o evento "Encontro
Nacional de Editores da Coluna Esplanada", promovido pelo jornalista
Leandro Mazzini na quinta-feira (31).
"Temos uma geração inteira de engenheiros nos anos 1970 e 1980 que
saíram da faculdade direto para o mercado financeiro, então há uma
carência de profissionais experientes e qualificados nessa área. Os
jovens não saem bem formados da faculdade e os projetos são muito
ruins", disse. "As empresas tem uma dificuldade muito grande em suprir
isso e fazem verdadeiros milagres", continuou, sobre as obras tocadas
pela Infraero, sob responsabilidade do governo. "Os engenheiros são
ruins".
O governo planejou, em 2011, uma série de melhorias para os aeroportos
das 12 cidades-sede. Em seis deles, porém, nem metade das obras de
ampliação de terminais foi feita. A Infraero garante que todas as
reformas estarão concluídas até junho do ano que vem, quando cerca de
600 mil turistas estrangeiros devem desembarcar no País, segundo a
Embratur.
Sem polêmica
O Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia) evitou polemizar
e, questionado pela reportagem sobre as declarações do ministro, não
respondeu. Por meio de sua assessoria de imprensa, diz apenas que o
Brasil atravessou um grande período de estagnação em seu desenvolvimento
industrial durante 30 anos em que a formação em Engenharia não era
atraente. Com a retomada do crescimento econômico, nos últimos dez
anos, a engenharia voltou a ser valorizada e o mercado profissional
aquecido.
Segundo a entidade, no ano de 2011 ingressaram nos cursos de Engenharia
227.785 jovens, 138% a mais que o registrado em 2006, e que o déficit
de engenheiros no país está caindo. "Sobre qualificação, vale destacar
ainda que a Engenharia não é mais um curso de cinco anos. São cinco para
se formar e depois são outros 35 de atuação em que você precisa ficar
se atualizando para atender a realidade da demanda", diz José Tadeu da
Silva, presidente do Confea.
"Dois a três anos fora do mercado de tecnologia já os deixam defasados
na área. Assim e em função do aquecimento do mercado, é fundamental a
requalificação e a manutenção desses profissionais.", diz ele,
concordando indiretamente com Moreira Franco.
Só depois da Copa
Em duas cidades, as obras só devem terminar em 2015. As intervenções
planejadas para os terminais de Porto Alegre e Fortaleza foram divididas
em duas etapas. Apenas a primeira parte ficará pronta a tempo da Copa.
"A conclusão da primeira etapa permitirá que esses aeroportos estejam
aptos para atender a demanda prevista para o evento esportivo", segundo a
Infraero.
O levantamento do andamento das obras foi feito pela Infraero. A
situação mais preocupante é a de Porto Alegre, onde as obras de reforma e
ampliação do terminal de passageiros começou em setembro deste ano –
embora, na Matriz de Responsabilidades, o início da reforma estivesse
previsto para começar dois anos antes.
Em Curitiba, a obra avançou 8,46% até agora. A construção começou em
maio deste ano e deve ficar pronta em maio do ano que vem. Já em
Salvador, onde as obras começaram em janeiro de 2013, os serviços
atingiram 20%. A ampliação do terminal deve estar pronta até o início de
2014, ainda segundo a Infraero.
A reforma do terminal de Fortaleza, iniciada em junho de 2012, chegou a
24,81% do total e deve ser entregue em março. Parte do atraso se deve a
uma greve de operários e à demora na entrega do projeto executivo,
segundo a Infraero.
Também apresentam baixa execução de obra Minas Gerais (33,17%), Cuiabá
(34,43%) e Rio de Janeiro (35,7%). As obras mais adiantadas são as de
Natal (78,31%) e Manaus (70,96%), que devem ficar prontas em novembro
deste ano e março do ano que vem, respectivamente.
Apesar do cenário, o ministro da aviação civil e a Infraero garantem
que as intervenções serão finalizadas a tempo. "Não se preocupem com a
Copa, não teremos problemas", garante ele. Enquanto isso, "você entra em
um aeroporto [no Brasil] e sua vida é entregue nas mãos de Deus",
resumiu a situação o próprio ministro
Nenhum comentário:
Postar um comentário