Discussão sobre reajuste criou tensão dentro do governo: presidente da Petrobrás tornou público modelo de reajustes automáticos, mas ministro resistia e disse que ideia não poderia sair ‘de afogadilho’
Mauro Zanatta e Débora Bergamasco - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Na disputa interna aberta no governo em torno
da dimensão e da forma do reajuste do preço da gasolina, a presidente da
Petrobrás, Graça Foster, ganhou o embate com o ministro da Fazenda,
Guido Mantega.
A presidente Dilma Rousseff avalizou a concessão de um "gatilho" para
reajustar os preços dos derivados de petróleo, "duas ou três vezes por
ano", e garantir "previsibilidade" aos planos de negócios da Petrobrás,
informou ao Estado um auxiliar presidencial.
Graça defendia exatamente um mecanismo que desse previsibilidade às
correções da gasolina e do diesel, mas Mantega resistia. Tanto é que, na
quarta-feira, ocorreu um curto-circuito: a presidente da Petrobrás
divulgou um fato relevante explicando em linhas gerais o novo mecanismo
de preços, e o ministro disse que a medida ainda estava em estudo e não
poderia ser feita "de afogadilho".
A medida aprovada por Dilma, segundo o Palácio do Planalto, será
calibrada em detalhe para tentar não pressionar a inflação, ainda a
principal preocupação macroeconômica da presidente. Objetivo declarado
do governo até aqui, a manutenção dos índices de inflação abaixo
daqueles registrados no ano passado, é um ponto de honra para Dilma.
Ao reforçar o caixa da estatal para evitar novas "punições" do
mercado, como um eventual rebaixamento de nota pelas agências de
classificação de risco, Dilma também "premia" os esforços feitos por
Graça Foster para recuperar as finanças da empresa e blindar as
operações de ingerências e nomeações políticas. "Depois do que ela fez, o
Mantega não poderia ganhar essa", disse a fonte.
Embora considere "excelente" o resultado obtido por Graça na
petroleira, Dilma também decidiu que o "gatilho" não será exatamente
como quer a Petrobrás, atrelado a cotações internacionais do petróleo e a
fórmulas complexas de indexação a produtos no exterior.
O País não pode, segundo a avaliação do Palácio do Planalto,
"importar" inflação derivada da flutuação das cotações e da
instabilidade típicas do mercado de petróleo. O uso do câmbio como
indexador dos preços internos também é considerado potencialmente
perigoso pelo governo. A ideia é que o efeito das oscilações do petróleo
e do dólar sejam calibrados.
Caixa. Dilma considera justo dotar a Petrobrás de
instrumentos de recomposição do caixa, bastante afetado pelo alto
endividamento, para suportar o volume de investimentos requeridos nos
próximos anos para a operação do recém-concedido campo de Libra.
Dilma também considera que Graça fez "ótimo trabalho" ao desinflar a
empresa, saindo de negócios incertos ou duvidosos, livrando a Petrobrás
de problemas em ativos complicados, como a sociedade com a venezuelana
PDVSA na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
No Planalto, há um reconhecimento de que a petroleira atrasou, e
segurou o quanto foi possível, a pressão do mercado financeiro por
reajustes robustos. Mas avalia-se, ainda, que há pressões exageradas em
termos de índices de reajuste.
A Petrobrás tem sofrido severas críticas por submeter seus resultados
aos planos do governo para controlar a inflação. Teve seu rating
reduzido por três das principais agências de classificação de risco
justamente por aceitar a intervenção do governo, seu principal
acionista.
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