segunda-feira, 6 de março de 2017

Dança das cadeiras em ministérios desestabiliza poder da base




Temer empossa dois novos ministros nesta semana, mas equilíbrio de representação dos partidos da base no governo diminui após nomeações, diz consultoria







São Paulo – A representação dos partidos da base no primeiro escalão do governo de Michel Temer ficou mais desequilibrada depois das últimas mudanças na equipe ministerial, segundo cálculos da consultoria Pulso Público. Com isso, uma das principais estratégias do Planalto para garantir governabilidade pode estar ameaçada.

A consultoria chegou a essa conclusão após medir o índice de coalescência do atual time de ministros. Tal indicador mede a proporção entre a importância dos partidos da base aliada no Congresso e o número de ministérios recebidos por cada legenda. Ele vai de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, mais proporcional é a repartição do poder entre as siglas da coalizão.

Em maio, a taxa de coalescência do gabinete de Temer era de 0,805 – fato que colocou o time atual ao lado da equipe de Fernando Henrique Cardoso como o mais equilibrado em termos partidários desde a redemocratização.

Com o anúncio de novos ministros, o índice caiu para 0,749 – patamar semelhante à média obtida pelos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Itamar Franco. Embora sutil, a mudança aponta para uma tendência que custou o poder para Dilma Rousseff, em 2016, e Fernando Collor de Mello, na década de 90.

Segundo a consultoria, na primeira fase de seu segundo mandato, Dilma favoreceu o PT e o PMDB enquanto deixou para o segundo plano outras legendas importantes da sua base, cujo papel no ministério não correspondia ao seu peso no parlamento.

Resultado: de 2015 ao momento em que foi afastada do poder, a taxa de coalescência do governo da petista não passou de 0,714 – o pior desempenho nesse quesito desde o governo Collor. “Níveis baixos de coalescência por muito tempo sempre levam a problemas”, afirma Vitor Oliveira, da Pulso Público.

No caso de Temer, a dança das cadeiras tem um objetivo claro: garantir maioria no Congresso para a aprovação das reformas, com especial atenção para a da Previdência.

A nomeação do deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR) para o Ministério da Justiça, por exemplo, serviu para acalmar os ânimos do partido de Temer, que não digeriu bem a escolha do deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA) para a Secretaria de Governo. Já o anúncio de Aloysio Nunes (PSDB-SP) mantém os tucanos com o Itamaraty.

Neste final de semana, Temer também bateu o martelo sobre as lideranças do Congresso e suas duas Casas. O deputado federal André Moura (PSC), que sinalizou declarar independência do centrão com relação ao governo depois de perder a liderança na Câmara, será oficializado como líder do governo no Congresso. O peemedebista Romero Jucá migra para a liderança do Senado e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) fica como líder do governo na Câmara.

“Caso ceda às pressões de seu partido para a obtenção de cargos, Temer corre o risco de aumentar ainda mais a concentração de ministérios e recursos de governo em seu partido e no principal parceiro, o PSDB, recaindo no erro cometido por Dilma Rousseff na gestão de sua coalizão. Neste momento, os partidos menos “recompensados” da coalizão com ministérios são DEM, PSB, PP e PR”, afirma o relatório divulgado pela Pulso Público antes da escolha das lideranças do Congresso.

Vale lembrar que, paralelo a essas ameaças de rebeliões na base e a necessidade de aprovar as reformas, Temer encara também o risco Lava Jato e o julgamento que pode levar à cassação de seu mandato, com as delações de executivos da Odebrecht conectando seu governo ao esquema de desvios de recursos na Petrobras.

Tudo isso com seu principal articulador político, o ministro Eliseu Padilha (Casa-Civil), licenciado por motivos médicos e na mira de acusações de corrupção. No meio da maior crise desde que chegou ao Planalto, Temer – definitivamente – não tem a opção de pisar em falso.


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