sexta-feira, 10 de março de 2017

Produtividade brasileira não cresce desde 1980, diz estudo


Entre 1950 e 1980, a renda per capita no Brasil cresceu com base na produtividade - que estagnou até hoje, segundo o Credit Suisse

 





São Paulo – A produtividade brasileira está estacionada desde 1980, de acordo com um estudo publicado ontem pelo banco Credit Suisse.

O zero a zero após três décadas e meia é resultado da volatilidade da medida, que alternou períodos de crescimento e de queda.

Entre 1981 e 1990, a produtividade por trabalhador caiu 2% em média por ano. De 1991 a 2000, subiu 1,6% anualmente na mesma medida.

O dado continuou positivo entre 2001 e 2010, mas o ritmo caiu para 1,2% ao ano. Entre 2011 e 2016, voltou a ser negativo, agora com taxa média de 1,1% por ano.

Tudo isso em contraste com o período anterior, entre 1950 e 1980, quando a produtividade do trabalho cresceu a uma média anual de 3,5%.

Naquelas décadas, foi esse o principal fator responsável pelo crescimento expressivo da renda per capita do país (3,9% por ano, em média).

Era uma época de urbanização acelerada, em que a própria migração dos trabalhadores de setores menos produtivas (como agropecuária) para outros mais produtivos (como indústria e, cada vez mais, serviços) já levava a uma produtividade maior. Tempos difíceis: se você tem um negócio, torne-se competitivo com automatização. – Patrocinado

Dos anos 80 para cá, o processo esfriou e a produtividade estagnou. A baixa adoção de tecnologias e distorções tributárias que levam a uma alocação ineficiente de recursos são outros fatores citados.

Ainda assim, a renda per capita cresceu 0,7% por ano em média desde então, o que pode ser explicado por outro fator: a inserção de pessoas no mercado de trabalho.

Mesmo que o resultado por trabalhador não cresça, fazer com que mais pessoas produzam já é suficiente para aumentar o bolo. O problema é que esse processo também tem limites naturais e já está se esgotando.

“Os resultados sugerem que o crescimento da renda per capita no Brasil será ainda mais dependente da dinâmica da produtividade nos próximos anos”, diz o texto do banco.

Esse também é o diagnóstico de Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Em entrevista recente para EXAME.com, ele elegeu a produtividade como a grande responsável pelo baixo potencial de crescimento do país:

“A produtividade é baixa e caiu em relação ao padrão internacional. E se ela não cresce, combinada com uma transição demográfica que faz com que a população em idade de trabalhar cresça mais devagar, o potencial de crescimento fica menor. A equação dos 2% a 3% [de potencial] vem daí, mas não é uma regra biológica ou escrita em pedra. Se conseguir fazer reformas, consegue crescer mais.”
  
 
 

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