Para
especialistas, o negócio entre a Portugal Telecom (PT) e a Oi é mais um
sinal de que, aos poucos, o sobressalto atribuído aos investidores estrangeiros
em relação ao Brasil não tem a proporção imaginada. A fusão das duas
companhias de telecomunicações resultou na criação da CorpCo, uma
gigante do setor com receita de R$ 37,5 bilhões em 2012 – uma das
maiores multinacionais do setor. "Os investidores gostam do Brasil. E segmentos
como o móvel e o 3G têm disseminação baixa no Brasil", disse Zeinal
Bava (foto), CEO da nova companhia em teleconferência com analistas.
Para
Luiz Miguel Santacreu, economista da Austin Rating, essa fusão é mais
um indicativo do potencial que o Brasil guarda, a despeito do pessimismo
retratado por veículos da imprensa internacional – caso da revista "The
Economist", que recentemente trouxe reportagem de capa sobre o Brasil
na qual trata a economia nacional com completo pessimismo e
desconfiança. “O Brasil é uma fronteira econômica invejável,
especialmente para o setor de serviços”, afirma Santacreu.
O
economista acredita em um cenário otimista. “Algumas empresas
estrangeiras estão vendo a oportunidade de fincar a bandeira no Brasil
agora”, diz.
“Elas querem
estar aqui quando o mercado melhorar, quando os marcos regulatórios
saírem e quando surgirem as novas oportunidades de investimentos.”
O
mercado de telecomunicações é apenas um dos setores na mira do capital
estrangeiro – especialmente europeu, que ainda enfrenta um cenário recessivo no seu continente.
O
setor automotivo está animado e nas últimas semanas anunciou cerca de
R$ 1 bilhão em aportes no Brasil. Na última segunda-feira (30/9), a Mercedes-Benz
disse que fará um investimento de R$ 500 milhões em nova fábrica em
Iracemápolis, no interior paulista. No mês passado, a Audi anunciou
um investimento de R$ 500 milhões no País. E são esperados mais R$ 700
milhões da Volkswagen. A chinesa Foton, fabricante de caminhões,
vai exportar veículos a partir do Rio Grande do Sul para América Latina
e África, além de atender ao mercado doméstico.
A
opinião de Santacreu também é compartilhada por quem observa o mercado
de fora. “Mesmo em um processo de abrandamento, a economia brasileira
continua a inspirar confiança a longo prazo, dado o perfil de
consumidores e acontecimentos econômicos que estão no horizonte”,
avalia presidente-executivo da
corretora portuguesa Dif Broker, Pedro Lino. A antecipação da fusão
entre PT e Oi, que já era prevista pelo mercado, demonstra
esse interesse do investidor pela economia brasileira. "Era algo que os
operadores de mercado esperavam, embora apenas em 2014”, diz.
Beltran
Simo, associado em Bogotá da Delta Partners, consultoria de
investimentos baseada em Dubai e especializada em telecomunicações,
aposta, inclusive, numa retomada do crescimento.
"É
certo que a economia brasileira tem problemas estruturais que devem
resolvidos, como alta inflação, infraestrutura deficitáira, sistema
fiscal demasiado complexo. Mas a
volta a taxas de crescimento interessantes unida a uma ainda complexa
situação em mercados mais maduros faz pensar que o Brsail seguirá sendo um foco importante de investimento", afirma o analista.
Para
Simo, a reação inicialmente positiva da fusão PT/Oi também por parte do
governo brasileiro pode servir de estímulo a outros investimentos estrangeiros no País.
"O
importante do caso PT/Oi talvez tenha sido a acolhida favorável por
parte das autoridades locais que, ainda que influenciadas pelo fato de
que a maioria do capital
permanecerá em mãos brasileiras e a sede no Rio, poderá mandar um sinal
de beneplácito a possíveis processos de integração em outros setores", diz.
Para
Otto Nogami, professor de economia do Insper, empresas que conhecem
profundamente o mercado nacional sabem que esse arrefecimento faz parte
de um ciclo que não é novo. “Essa fusão mostra que o interesse do mundo
no Brasil é um fato”, afirma. “Os olhos estão todos voltados para cá, pois enxergam um grande potencial nessa população majoritariamente consumista e com demanda reprimida.”
“O
mercado brasileiro de telefonia móvel tem a melhor perspectiva de médio
a longo prazo entre os emergentes, mas a tendência é que essa consolidação siga para outros setores”, completa Nogami.
Isso
porque o ganho de eficiência continua sendo a principal preocupação das
empresas nacionais. “Fusões geram volume e redução de custos, com ganhos
importantes em produtividade”, diz o professor. A avaliação do analista
da corretora portuguesa Fincor, Albino Oliveira, é semelhante. “As sinergias
são o principal motivo pelo qual as ações da Portugal Telecom
responderam dessa maneira [no pregão desta quarta-feira, dia 2].”
As
ações da portuguesa na Bolsa de Lisboa chegaram a disparar 20% nas
primeiras horas da manhã (no horário local) – resultado da expectativa
de ganhos de cerca de R$ 5,4 bilhões com as sinergias resultantes do negócio.
Fonte: IG Economia
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