Arminio Fraga e Gustavo Franco criticaram a flexibilização do tripé da política macroeconômica, alvo de debate entre Marina Silva e Dilma
Dilma Rousseff: Arminio se disse "preocupado" com a mudança na política econômica, enquanto Franco comemorou o fato de Marina Silva demonstrar preocupação com o tripé
Rio - Dois ex-presidentes do Banco Central
(BC) criticaram, na quinta-feira, 18, a flexibilização do tripé da
política macroeconômica (superávit primário, metas de inflação e câmbio
flutuante), que esta semana foi alvo de debate entre a ex-senadora
Marina Silva e a presidente Dilma Rousseff.
Em seminário no Rio, Arminio Fraga e Gustavo Franco, presidentes do BC
no governo Fernando Henrique Cardoso - que mantêm contato com o senador
Aécio Neves (PSDB-MG) -, foram incisivos nas críticas.
Henrique
Meirelles, comandante da autoridade monetária no governo Luiz Inácio
Lula da Silva, que também participou do evento, promovido pelo Instituto
Millenium e pelo Ibmec, preferiu destacar pontos positivos da economia,
como instituições fortes.
Arminio abriu sua palestra dizendo-se "preocupado" com a mudança na
política econômica a partir do segundo mandato do presidente Lula. "O
Brasil vive, de uns seis ou sete anos para cá, um modelo diferente do
que prevaleceu nos 12 anos anteriores", afirmou Arminio a jornalistas,
pouco antes da palestra.
"Houve uma inversão na política econômica: ela está amarrada na
microeconomia e solta na macroeconomia", completou. A amarração na
microeconomia se refere às diversas formas de intervenção do governo na
economia. O tripé é o lado macroeconômico da política.
Respondendo a uma pergunta do público, Arminio relacionou a
flexibilização da política econômica no Brasil a uma tendência global,
mas afirmou que o Brasil "está rasgando um pouco" o tripé. "Estamos
vivendo um momento em que BCs pelo mundo afora largaram suas cartilhas.
E, nesse contexto, o Brasil foi escorregando", afirmou, para então
avaliar que "dá para mudar isso". "O BC vem aumentando os juros",
lembrou.
Gustavo Franco comemorou o fato de Marina Silva demonstrar preocupação
com o tripé. "É sinal de que alguma coisa mudou", disse, também
respondendo ao público. O economista explicou, porém, que o tripé é
apenas a "parte operacional" de um conjunto mais amplo de políticas.
São eles a responsabilidade fiscal (garantida pelo superávit primário),
a qualidade da moeda (expressa no controle da inflação, mas indo além
da meta para o IPCA) e a abertura da economia para o exterior
(facilitada pelo câmbio flutuante).
Dos três conjuntos de políticas, Franco é mais crítico à condução da
responsabilidade fiscal pelo atual governo. O ex-presidente do BC
criticou a renegociação das dívidas de Estados e prefeituras com a União
e a "contabilidade criativa" para fechar as contas públicas.
O risco de flexibilizar demais a política macroeconômica, para Franco, é haver piora nos serviços públicos. "O custo de uma política macroeconômica mal formulada se transforma em um setor público que funciona mal", disse Franco, antes do seminário. "São custos muito concretos e boa parte desses custos está por trás da efervescência nas ruas", completou, referindo-se às manifestações que tomaram o País desde junho.
Choque de oferta
Já Henrique Meirelles destacou pontos positivos, como a força das instituições, e procurou destacar que a inflação não é "estrutural" no País. Segundo ele, a política monetária não deve ser usada para conter os "efeitos primários" dos choques de oferta - como uma alta de preços de alimentos inesperada. Nessa lógica, a inflação no Brasil tem ficado mais próxima do centro da meta, quando esses efeitos são excluídos.
Evitando críticas à atual política econômica ou ao BC, Meirelles defendeu o câmbio flutuante e a política de acumulação de reservas, como contrapartida de uma estratégia de conter o vaivém das cotações.
"Você deve intervir no câmbio quando há um problema grave de escassez de liquidez ou excesso de liquidez. O que não pode é generalizar e usar (as intervenções do BC) para tentar controlar a taxa de câmbio", disse Meirelles, que também defendeu a "austeridade" nas despesas públicas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
O risco de flexibilizar demais a política macroeconômica, para Franco, é haver piora nos serviços públicos. "O custo de uma política macroeconômica mal formulada se transforma em um setor público que funciona mal", disse Franco, antes do seminário. "São custos muito concretos e boa parte desses custos está por trás da efervescência nas ruas", completou, referindo-se às manifestações que tomaram o País desde junho.
Choque de oferta
Já Henrique Meirelles destacou pontos positivos, como a força das instituições, e procurou destacar que a inflação não é "estrutural" no País. Segundo ele, a política monetária não deve ser usada para conter os "efeitos primários" dos choques de oferta - como uma alta de preços de alimentos inesperada. Nessa lógica, a inflação no Brasil tem ficado mais próxima do centro da meta, quando esses efeitos são excluídos.
Evitando críticas à atual política econômica ou ao BC, Meirelles defendeu o câmbio flutuante e a política de acumulação de reservas, como contrapartida de uma estratégia de conter o vaivém das cotações.
"Você deve intervir no câmbio quando há um problema grave de escassez de liquidez ou excesso de liquidez. O que não pode é generalizar e usar (as intervenções do BC) para tentar controlar a taxa de câmbio", disse Meirelles, que também defendeu a "austeridade" nas despesas públicas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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