SÃO PAULO - O
mercado externo deu a deixa para um forte ajuste do dólar e dos juros
nesta terça-feira, após a recente trégua observada nos negócios. A moeda
americana disparou para mais de R$ 2,31, pressionada pelo movimento da
divisa no exterior e sem que esse movimento acionasse qualquer
intervenção do Banco Central (BC) por ora.
Em consequência, os juros futuros também foram a máximas há dias não
vistas. Também contribui para essa alta o movimento dos títulos do
Tesouro americano, cujos rendimentos avançam firmemente hoje. Além
disso, há as declarações de ontem do diretor de Política Econômica do
BC, Carlos Hamilton Araújo, de que a inflação baixa vista em julho “é um
ponto fora da curva”.
Depois de subir 6,06% em quatro pregões, o Ibovespa luta para cravar um quinto dia de ganhos, mas há dificuldades. Operadores
comentam que há muitas forças em jogo neste pregão. Uma delas é a
pressão do dólar, que não para de subir. Outra é o vencimento de opções
sobre Ibovespa e índice futuro, que deve dar uma briga boa nos 50 mil
pontos, segundo um profissional. Os estrangeiros reduziram drasticamente
suas posições vendidas em Ibovespa futuro.
O economista-chefe da INVX Global, Eduardo Velho, diz que a alta do
Ibovespa em julho e neste começo de agosto surpreendeu, já que meses de
férias no Hemisfério Norte tendem a trazer menos emoções às mesas de
negociação. Mas os números da China melhores, reforça, dão um tom
positivo aos mercados que vendem commodities, caso do Brasil. As
perspectivas seguem incertas, já que, segundo ele, as divulgações
chinesas têm sido erráticas, a exemplo dos números dos Estados Unidos.
Se a recuperação se mantiver, significa mais fôlego para a Bovespa.
Perto de 14 horas, o Ibovespa subia 0,05%, para 50.325 pontos. Vale PNA avançava 0,67% e Petrobras PN recuava mais de 1%.
Em alta, o dólar alcançou o maior nível em quase uma semana. De
acordo com operadores, em mais um dia sem atuação do BC, as compras hoje
são uma continuação do movimento de ontem, quando a autoridade
monetária não interveio mesmo com o dólar em alta. Isso funcionou como
um “passe livre” para a recomposição de posições a favor da moeda
americana, que ganha força nesta sessão pela valorização global do
dólar.
As compras de dólares ocorrem em um dia de liquidez um pouco melhor -
da ordem de US$ 870 milhões no mercado interbancário -, mas ainda
abaixo da média para o horário, de pouco mais de US$ 1 bilhão. Isso
acaba potencializando as variações, já que o mercado fica mais sensível a
fluxos pontuais.
No mercado primário, operadores afirmam que os fluxos estão fracos,
sem presença significante de importadores e exportadores. Do lado
financeiro, o fluxo é negativo.
Segundo um especialista em câmbio, o mercado segue demandando dólares por ter entendido que o BC vem adotando uma postura errática em suas intervenções no câmbio.
“Ninguém esperava que ele atuasse na baixa. Ele atuou. Todo mundo
espera que ele atue na alta. Mas nem ontem nem hoje ele atuou. Quem
ficou com um pé atrás de comprar dólar no fim da semana passada nesta
semana está tendo passe livre, já que o BC ainda não deu as caras”, diz o
profissional, referindo-se à venda de US$ 1,625 bilhão em swaps
cambiais tradicionais no fim da semana passada, mesmo com o dólar em
queda.
Segundo ele, essa “imprevisibilidade” pode ser uma nova estratégia,
já que assim o BC evitaria espe culação no câmbio. “Mas tem o outro lado
da moeda. Quando o BC não atua com o dólar em alta, quem precisa da
moeda para fazer hedge também é prejudicado. De qualquer forma,
imprevisibilidade nunca é algo bom. Deixa o mercado mais tenso. E qu
ando o mercado está tenso ele procura proteção. Ou seja, procura dólar.”
Próximo de 14 horas, o dólar comercial subia 0,83%, para R$ 2,305. Na
máxima, a moeda foi a R$ 2,310 (+1,05%). É o maior nível intradia desde
a última quarta-feira, quando o dólar chegou a ser cotado em R$ 2,315. No mercado futuro, o dólar para setembro ganhava 0,65%, a R$ 2,3125.
Na BM&F, DI janeiro/2017 projetava taxa de 11,20%, contra
10,95% no ajuste de ontem. O DI janeiro/2015 tinha taxa de 9,84%, ante
9,72% um dia antes.
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