Pesquisa do instituto Ipsos aponta que, pela primeira vez em seis anos, mais brasileiros acham que o país está no rumo errado (58%) do que no rumo certo (42%)
José Roberto de Toledo - Estadão Dados
Pela primeira vez em seis anos, mais brasileiros acham
que o país está no rumo errado (58%) do que no rumo certo (42%). A
inversão da opinião pública aconteceu em junho, após a série de
manifestações de rua, e se manteve em julho, segundo histórico de
pesquisas nacionais do instituto Ipsos.
Foi uma reversão abrupta, sem paralelo nos oito anos de pesquisa: de
um mês para o outro, um em cada cinco brasileiros mudou de opinião. Em
maio, 63% diziam que o Brasil estava no rumo certo, e 37%, que estava
errado. Um mês e 500 protestos depois, as taxas quase se inverteram: 43%
a 57%. Pela primeira vez desde 2007, mais gente passou a achar que o
país marcha para o lado errado.
Em julho, segundo o Ipsos, a tendência se manteve, com pequena
oscilação: 42% acham que o Brasil está na direção correta, e 58%, que o
país precisa mudar de rumo. Não há diferenças significativas entre
classes: na "C", 41% dizem que o rumo do país está correto, contra 43%
da A/B e 46% da D/E.
"Essa inversão mostra uma preocupação: a necessidade de pensar os
problemas com mais profundidade", diz Paulo Cidade, diretor-executivo da
Ipsos Public Affairs. "A partir dos protestos, as pessoas começam a
perceber que é preciso pensar mais no país a longo prazo. E a
expectativa está bem negativa", completa.
A resposta da opinião pública a essa questão não é igual à avaliação
que as pessoas fazem do governo federal. Em junho, quando houve a
inversão e mais pessoas passaram a achar que estamos na contramão, a
avaliação da presidente Dilma Rousseff (PT), embora tivesse despencado,
ainda tinha saldo positivo: 37% de ótimo/bom contra 25% de ruim/péssimo,
segundo o Ipsos.
É mais uma medida do humor, do sentimento geral da população. É um
alerta para os governantes de que algo precisa ser feito. Significa
também que o eleitorado está muito mais propício à mudança e, em tese,
mais permeável a um discurso de oposição. Mas o indicador deve ser
analisado com cuidado pelos opositores.
De abril de 2005 até o final de 2006, mais brasileiros achavam que o
país estava no rumo errado do que no certo. No auge dessa onda de
pessimismo, em outubro de 2005, 71% apostavam que Lula conduzia o Brasil
pela contramão. Essa taxa passou a cair mês a mês e, um ano depois, o
ex-presidente acabou reeleito.
A pesquisa foi feita com mil entrevistas face a face, no domicílio do
entrevistado, em 70 cidades do país. A margem de erro é de 3 pontos
porcentuais, para mais ou para menos. O Ipsos é um dos cinco maiores
institutos de pesquisa do mundo.
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