sábado, 17 de agosto de 2013

Oriente Médio e Norte da África são fundamentais para agronegócio brasileiro




 


O secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Marcelo Junqueira Ferraz (foto), assumiu o cargo no lugar de Célio Porto. Em entrevista à agência de notícias ANBA, ele afirma que, em relação aos países árabes, as trocas comerciais cresceram mais de cinco vezes desde a realização da primeira Cúpula América do Sul-Países Árabes (ASPA), em 2005, em Brasília, e tornaram-se fundamentais para o agronegócio brasileiro. Mesmo assim, diz, há espaço para ampliar a relação comercial com países do Oriente Médio e do Norte da África.

Segundo ele, as obras de infraestrutura que estão sendo feitas no Brasil tornarão o agronegócio nacional mais competitivo no exterior porque agregará valor aos produtos agrícolas, melhorando ainda mais o relacionamento do país com os parceiros externos.

Ex-superintendente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro e ex-diretor do Departamento de Promoção Internacional do Agronegócio no Ministério da Agricultura, Ferraz diz que uma duas suas prioridades à frente da Secretaria de Relações Internacionais será convencer países que ainda não reconhecem o status de sanidade da carne bovina brasileira a voltar a comprar o produto.

Em dezembro de 2012, o governo revelou que uma vaca do rebanho paranaense portadora do “mal da vaca louca” morreu em 2010 sem desenvolver a doença. Diversos países embargaram a importação do produto, entre eles o Egito e a Arábia Saudita. Muitos já suspenderam o embargo e a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE, na sigla em inglês) reconheceu o status de “risco insignificante” para a carne brasileira.

“Centenas de parceiros, muitos com serviços sanitários reconhecidos mundialmente por seu rigor, importam atualmente as carnes brasileiras, o que é um reconhecimento de sua sanidade. Não vemos motivos para que os demais mercados neguem ou protelem esse reconhecimento”, afirma.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

ANBA - Os produtos agropecuários são os principais da pauta de exportações do Brasil e são aqueles com os quais o País é altamente competitivo no exterior. Ainda é possível ampliar esse mercado? Como?

Marcelo Junqueira Ferraz - Pela competência e dedicação dos agricultores brasileiros, o país logrou, na segunda metade do século 20, uma posição privilegiada no mercado mundial de produtos agropecuários. Na última década, o volume e a diversidade de produtos vendidos aumentaram significativamente e o valor das exportações do agronegócio cresceu mais de 210%. Hoje em dia, é praticamente impossível se mencionar um país onde não haja produtos brasileiros. Embora as conquistas obtidas até hoje nos orgulhem muito, nós acreditamos que o potencial  da agricultura  brasileira nos permite buscar mais.

Internamente, o aumento de eficiência logística deve permitir o uso mais pleno das potencialidades do campo brasileiro, com produtos atingindo os portos e chegando ao mercado externo com mais facilidade. Externamente, o Ministério da Agricultura trabalha junto a autoridades estrangeiras com o objetivo de abrir novos mercados. Neste sentido, ampliaremos o diálogo com nossos parceiros em todos os continentes na busca da eliminação de restrições técnicas e comerciais que, por vezes, excluem injustamente os produtos brasileiros de alguns mercados.

Há algum problema urgente para ser solucionado ou há algum desafio que o senhor pretenda “atacar” neste momento?

Um dos desafios que precisam de atenção imediata é a intensificação do diálogo com alguns países que insistem em não reconhecer a decisão da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) que classifica o Brasil como país com risco baixíssimo de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB, que causa o chamado ‘mal da vaca louca’). Centenas de parceiros, muitos com serviços sanitários reconhecidos mundialmente por seu rigor, importam atualmente as carnes brasileiras, o que é um reconhecimento de sua sanidade. Não vemos motivos para que os demais mercados neguem ou  protelem esse reconhecimento.

Como agregar valor aos nossos produtos, ampliar as vendas para além das commodities e obter resultados ainda melhores com o setor agrícola brasileiro?

Agregar valor aos produtos do campo brasileiro é uma preocupação constante do Ministério da Agricultura. Não acredito que haja uma oposição entre ser um grande exportador de commodities e ser um país que consegue agregar valor aos produtos que vende para o resto do mundo. A exportação de commodities sempre fará parte da pauta brasileira pois a eficiência da nossa agricultura permite aos produtos do país uma penetração global a preços competitivos. Adicionalmente, temos a preocupação de agregar cada vez mais valor aos itens que exportamos. Ações específicas estão sendo levadas a cabo em diversos setores, como os da cachaça e do café. O Ministério da Agricultura trabalha, junto com outros parceiros de governo e do setor privado, para internacionalizar as empresas brasileiras de alimentos e bebidas, permitindo que mais valor seja agregado aos produtos exportados, gerando mais empregos e mais divisas e promovendo os produtos e o estilo de vida do Brasil no exterior.
Qual é hoje o principal desafio para as exportações de produtos agrícolas brasileiros e o que fazer para superá-lo?

Acredito que estamos começando o processo de superação de um dos grandes desafios do comércio internacional brasileiro. A mudança da geografia agrícola brasileira ocorria nas últimas décadas não vinha sendo acompanhada por um correspondente desenvolvimento dos sistemas técnicos relacionados a esse setor. Ao longo dos próximos anos, diversas obras de infraestrutura aumentarão a eficiência logística do escoamento da produção do agronegócio brasileiro, integrando transporte rodoviário, ferroviário e fluvial.

Para os produtores do Centro-Oeste brasileiro, isso implicará a redução da distância da ordem de mil quilômetros. O corredor de escoamento mudará sensivelmente, desafogando os portos da região Sul e direcionando-se para os terminais do Arco Norte. Complementarmente, será possível aproveitar a iminente expansão do Canal do Panamá, cuja consequência será uma economia de cerca de 20% no custo de frete e de quatro dias no tempo de viagem nos embarques de grãos com destino aos mercados asiáticos, grandes compradores brasileiros.


Os principais compradores do Brasil são China, EUA e União Europeia. O ministério tem como meta ampliar as vendas para estes destinos ou encontrar outros clientes?

O Brasil acredita que é possível conquistar novos espaços sem deixar de lado os parceiros tradicionais. Desta maneira, atuamos simultaneamente em grandes mercados consolidados e novos atores emergentes. Na última década, logramos desconcentrar nosso fluxo de exportações, enquanto aumentamos os valores exportados para os grandes compradores dos produtos do agronegócio brasileiro.

Em 2002, as exportações para China, Estados Unidos e União Europeia, representavam 60% do valor vendido pelo agronegócio brasileiro. Em 2012, a despeito do crescimento sem precedentes das vendas para China, a participação combinada dos três mercados foi de apenas 49%. Esses números são resultados dos nossos esforços crescentes na busca de diversificação de mercados para a agricultura brasileira.


Nesse contexto, os países do Oriente Médio e do Norte da África podem ser “alvo” da busca brasileira por clientes fortes fora dos EUA, China e UE?

Nossos parceiros do Oriente Médio e no Norte da África são um eixo fundamental na busca de novos mercados para produtos agrícolas brasileiros. A aproximação recente entre a América do Sul e os países da região, simbolizada pela Cúpula América do Sul-Países Árabes, já tem rendido frutos significativos na boa aceitação dos produtos brasileiros na região, o que se reflete em resultados comerciais. Na última década, o comércio de produtos agrícolas entre o Brasil e os Países do Oriente Médio cresceu quase cinco vezes. Entre o Brasil e a região do Magreb (Argélia, Tunísia, Mauritânia, Líbia e Marrocos), o fluxo foi ampliado em mais de 700%. Embora os números sejam gratificantes, acreditamos que, pela complementaridade entre as economias e pelas boas relações comerciais que travamos, o potencial para trocas seja ainda maior.


Fonte:  Anba



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