O
secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Marcelo
Junqueira Ferraz (foto), assumiu o cargo no lugar de Célio Porto. Em
entrevista à agência de notícias ANBA, ele afirma que, em relação aos
países árabes, as trocas comerciais cresceram mais de cinco vezes desde
a realização da primeira Cúpula América do Sul-Países Árabes (ASPA),
em 2005, em Brasília, e tornaram-se fundamentais para o
agronegócio brasileiro. Mesmo assim, diz, há espaço para ampliar a
relação comercial com países do Oriente Médio e do Norte da África.
Segundo
ele, as obras de infraestrutura que estão sendo feitas no Brasil tornarão o
agronegócio nacional mais competitivo no exterior porque
agregará valor aos produtos agrícolas, melhorando ainda mais o
relacionamento do país com os parceiros externos.
Ex-superintendente da Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab) em
Belo Horizonte e no Rio de Janeiro e ex-diretor do
Departamento de Promoção Internacional do Agronegócio no Ministério da
Agricultura, Ferraz diz que uma duas suas prioridades à frente da
Secretaria de Relações Internacionais será convencer países que ainda
não reconhecem o status de sanidade da carne bovina brasileira a voltar a
comprar o produto.
Em dezembro de 2012, o governo revelou que
uma vaca do rebanho paranaense portadora do “mal da vaca louca” morreu em
2010 sem desenvolver a doença. Diversos países embargaram a importação
do produto, entre eles o Egito e a Arábia Saudita. Muitos já suspenderam o
embargo e a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE, na sigla em
inglês) reconheceu o status de “risco insignificante” para a carne
brasileira.
“Centenas de parceiros, muitos com serviços sanitários reconhecidos
mundialmente por seu rigor, importam atualmente as carnes brasileiras, o
que é um reconhecimento de sua sanidade. Não vemos motivos para que os
demais mercados neguem ou protelem esse reconhecimento”, afirma.
Confira abaixo os principais trechos da
entrevista:
ANBA - Os produtos agropecuários são
os principais da pauta de exportações do Brasil e são aqueles com os quais
o País é altamente competitivo no exterior. Ainda é possível ampliar
esse mercado? Como?
Marcelo Junqueira Ferraz - Pela competência
e dedicação dos agricultores brasileiros, o país logrou, na segunda metade
do século 20, uma posição privilegiada no mercado mundial de produtos
agropecuários. Na última década, o volume e a diversidade de produtos
vendidos aumentaram significativamente e o valor das exportações do
agronegócio cresceu mais de 210%. Hoje em dia, é praticamente impossível se
mencionar um país onde não haja produtos brasileiros. Embora as
conquistas obtidas até hoje nos orgulhem muito, nós acreditamos que o
potencial da agricultura brasileira
nos permite buscar mais.
Internamente,
o aumento de eficiência logística deve permitir o uso mais pleno das
potencialidades do campo brasileiro, com produtos atingindo os portos
e chegando ao mercado externo com mais facilidade. Externamente, o
Ministério da Agricultura trabalha junto a autoridades estrangeiras com
o objetivo de abrir novos mercados. Neste sentido, ampliaremos o diálogo
com nossos parceiros em todos os continentes na busca da eliminação
de restrições técnicas e comerciais que, por vezes, excluem
injustamente os produtos brasileiros de alguns mercados.
Há algum problema urgente para ser
solucionado ou há algum desafio que o senhor pretenda “atacar” neste
momento?
Um dos desafios que precisam de atenção
imediata é a intensificação do diálogo com alguns países que insistem em
não reconhecer a decisão da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE)
que classifica o Brasil como país com risco baixíssimo de Encefalopatia
Espongiforme Bovina (EEB, que causa o chamado ‘mal da vaca louca’).
Centenas de parceiros, muitos com serviços sanitários reconhecidos
mundialmente por seu rigor, importam atualmente as carnes brasileiras,
o que é um reconhecimento de sua sanidade. Não vemos motivos para que os
demais mercados neguem ou protelem esse reconhecimento.
Como agregar valor aos nossos
produtos, ampliar as vendas para além das commodities e obter resultados
ainda melhores com o setor agrícola brasileiro?
Agregar valor aos produtos do campo
brasileiro é uma preocupação constante do Ministério da Agricultura. Não
acredito que haja uma oposição entre ser um grande exportador de
commodities e ser um país que consegue agregar valor aos produtos que vende
para o resto do mundo. A exportação de commodities sempre fará parte
da pauta brasileira pois a eficiência da nossa agricultura permite aos
produtos do país uma penetração global a preços competitivos.
Adicionalmente, temos a preocupação de agregar cada vez mais valor aos
itens que exportamos. Ações específicas estão sendo levadas a cabo em
diversos setores, como os da cachaça e do café. O Ministério da Agricultura
trabalha, junto com outros parceiros de governo e do setor privado,
para internacionalizar as empresas brasileiras de alimentos e bebidas,
permitindo que mais valor seja agregado aos produtos
exportados, gerando mais empregos e mais divisas e promovendo os
produtos e o estilo de vida do Brasil no exterior.
Qual é hoje o principal desafio para as
exportações de produtos agrícolas brasileiros e o que fazer para superá-lo?
Acredito que estamos começando o processo de
superação de um dos grandes desafios do comércio internacional brasileiro.
A mudança da geografia agrícola brasileira ocorria nas últimas décadas
não vinha sendo acompanhada por um correspondente desenvolvimento dos
sistemas técnicos relacionados a esse setor. Ao longo dos próximos
anos, diversas obras de infraestrutura aumentarão a eficiência logística do
escoamento da produção do agronegócio brasileiro, integrando
transporte rodoviário, ferroviário e fluvial.
Para os produtores do Centro-Oeste
brasileiro, isso implicará a redução da distância da ordem de mil
quilômetros. O corredor de escoamento mudará sensivelmente,
desafogando os portos da região Sul e direcionando-se para os terminais do
Arco Norte. Complementarmente, será possível aproveitar a iminente
expansão do Canal do Panamá, cuja consequência será uma economia de cerca
de 20% no custo de frete e de quatro dias no tempo de viagem nos
embarques de grãos com destino aos mercados asiáticos, grandes compradores
brasileiros.
Os principais compradores do Brasil
são China, EUA e União Europeia. O ministério tem como meta ampliar as
vendas para estes destinos ou encontrar outros clientes?
O
Brasil acredita que é possível conquistar novos espaços sem deixar de lado
os parceiros tradicionais. Desta maneira, atuamos simultaneamente
em grandes mercados consolidados e novos atores emergentes. Na última
década, logramos desconcentrar nosso fluxo de exportações,
enquanto aumentamos os valores exportados para os grandes compradores
dos produtos do agronegócio brasileiro.
Em 2002, as exportações para China, Estados
Unidos e União Europeia, representavam 60% do valor vendido pelo
agronegócio brasileiro. Em 2012, a despeito do crescimento sem
precedentes das vendas para China, a participação combinada dos três
mercados foi de apenas 49%. Esses números são resultados dos nossos
esforços crescentes na busca de diversificação de mercados para a agricultura
brasileira.
Nesse contexto, os países do Oriente
Médio e do Norte da África podem ser “alvo” da busca brasileira por
clientes fortes fora dos EUA, China e UE?
Nossos parceiros do Oriente Médio e no Norte
da África são um eixo fundamental na busca de novos mercados para produtos
agrícolas brasileiros. A aproximação recente entre a América do Sul e
os países da região, simbolizada pela Cúpula América do Sul-Países Árabes,
já tem rendido frutos significativos na boa aceitação dos produtos brasileiros
na região, o que se reflete em resultados comerciais. Na última década, o
comércio de produtos agrícolas entre o Brasil e os Países do Oriente
Médio cresceu quase cinco vezes. Entre o Brasil e a região do Magreb
(Argélia, Tunísia, Mauritânia, Líbia e Marrocos), o fluxo foi ampliado
em mais de 700%. Embora os números sejam gratificantes, acreditamos que,
pela complementaridade entre as economias e pelas boas relações
comerciais que travamos, o potencial para trocas seja ainda maior.
Fonte: Anba
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