Economia
Luz na matriz
Míriam Leitão, O Globo
“A luz do sol que
atinge a terra durante 90 minutos é suficiente para fornecer energia por
um ano”. A frase que piscou na minha timeline tinha sido tuitada pelo
presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tolmasquim, e
retuitada pelo meu colega André Trigueiro. Apesar disso, a energia solar
é praticamente inexistente na matriz energética do Brasil.
Dizem
que a energia solar é cara. Foi o mesmo que me disse a então ministra
Dilma Rousseff sobre energia eólica, em entrevista que fiz com ela no
Ministério das Minas e Energia. Ela assumiu prometendo mudar os erros do
passado da falta de planejamento que havia levado ao apagão de 2001. À
época, Dilma demonstrou desinteresse pela energia dos ventos.
Hoje,
energia eólica é a que mais cresce no Brasil, porque ocorreu o
previsto: os investimentos no setor levaram ao barateamento dos custos,
que permitiram novos projetos.
Hoje, o esquisito é a falta de
linha de transmissão que faz com que parques eólicos produzam em vão.
Mesmo assim, a ampliação já licitada vai triplicar a capacidade de
geração dessa energia nos próximos anos, e a EPE se prepara para
realizar o maior leilão de eólica do país.
Foram feitas mais
exigências, o preço foi reduzido, e criada uma discriminação. Serão dois
os leilões deste fim de agosto. Um, no dia 23, só para eólica, em que o
preço máximo é de R$ 117 o MWH e só serão aceitos projetos perto das
linhas de transmissão existentes, como se fosse culpa das eólicas não
terem sido feitas as linhas pela Chesf nos projetos hoje parados.
No
dia 28, haverá um leilão misto em que solar e eólica não entram. Serão
permitidas as pequenas centrais hidrelétricas, as térmicas e biomassa.
Mas neste caso não há exigência de localização, e o preço máximo
permitido é mais elevado: R$ 140 o MWH.
Ou seja, o governo aceita
comprar uma energia suja, como a do carvão, por um preço maior do que
aceita comprar por uma energia limpa. Vá entender o Brasil!
O
setor de energia vive uma série de problemas: a conta da redução do
preço da energia ao consumidor residencial e industrial só faz aumentar.
A notícia da queda do preço da energia era boa e foi tratada com ares
de palanque.Melhor seria, se fosse consequência de uma queda do custo.
Mas o governo diminuiu o preço quando o custo estava subindo.
Com
pouca água nos reservatórios, foram ligadas as térmicas que são muito
caras. Há um gargalo energético de curto prazo no país e, por isso, a
energia comprada no mercado livre disparou.
As distribuidoras
tiveram que reduzir a conta quando o preço estava maior. Essa diferença
de custo das térmicas e da compra no mercado livre será paga pelo
Tesouro. Segundo “O Estado de S.Paulo”, já chega a R$ 17 bi. Um número
espantoso.
Uma decisão populista do governo Dilma custará R$ 17
bilhões. O Tesouro vai aumentar a dívida para cobrir o rombo. O jornal
se baseou em um relatório da consultoria PSR, do especialista Mário
Veiga, que já assessorou o governo no tema.
Uma resolução do
Conselho Nacional de Política Energética determinou o rateio entre todas
as geradoras do custo extra do uso das térmicas. Foi assim, sem mais
nem menos. Isso significa que pagam as limpas pelas sujas, ou seja,
geradoras de energia mais limpa vão pagar a conta de quem emite gases de
efeito estufa e polui. Empresas entraram na Justiça, conseguiram
liminar, não pagaram, a liminar caiu; a briga promete ser longa.
Enquanto
isso, nas hidrelétricas do Rio Madeira, uma falha de planejamento da
compatibilização dos sistemas de segurança entre geração e transmissão
criou um impasse. Quem deu a notícia foi o “Valor”. Tudo o que o governo
fez foi tentar isentar o Ministério das Minas e Energia de
responsabilidade pelo erro.
Se não é o MME, quem seria o responsável? A EPE? O ONS? O CNPE? A Aneel?
Pelo
governo, foram as empresas de Jirau e Santo Antônio que deveriam ter
cumprido algo que não estava no edital, nem foi previsto pelo governo.
Se não for resolvido e as empresas não puderem pôr no sistema a energia
que gerarem, custará R$ 200 milhões por mês, me contou uma das fontes do
setor.
Quanto à energia solar, continua desprezada, apesar do seu
brilho. Se o governo fizer a conta do custo de outras fontes mais
polêmicas ou mais sujas, talvez comece a ver a luz da energia solar que
merece ter uma fatia na matriz de um país tão ensolarado.
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