Grupo inicia o ano com o desafio de seguir cortando custos, mas lidando com uma maior insatisfação dos consumidores
Supermercado Pão de Açúcar: segundo levantamento, foram 86,6 mil reclamações relacionadas às empresas do grupo no ano passado
São Paulo - O Grupo Pão de Açúcar inicia
o ano com o desafio de seguir cortando custos, lidando, ao mesmo tempo,
com uma maior insatisfação dos consumidores, algo que poderá colocar a
qualidade do serviço ofertado em xeque e abrir oportunidades para a
concorrência, afirmam analistas e executivos do setor de varejo.
Segundo levantamento do site Reclame Aqui, foram 86,6 mil reclamações
relacionadas às empresas do grupo no ano passado, contra 49,3 mil em
2012, um aumento de 75,6 por cento.
Embora a maior parte das queixas sejam sobre operações online,
abordando principalmente problemas com entregas, as reclamações em lojas
físicas do grupo também cresceram: no Extra, o avanço foi de 34,3 por
cento no ano, chegando a 74,3 por cento no Pão de Açúcar. Consumidores
apontaram desde o tamanho das filas nos supermercados a produtos fora de
validade e prateleiras desabastecidas.
Enquanto isso, no ranking estadual de atendimentos do Procon-SP,
compilado pela primeira vez em 2013, o GPA aparece como sétima empresa
mais reclamada de São Paulo e única varejista a figurar na lista das 10
mais, seguida pelo grupo Carrefour na 17a posição.
O avanço das queixas se deu no primeiro ano do Casino no controle do
GPA, com o grupo francês aumentando sua influência sobre a maior
varejista do país após Abilio Diniz negociar sua saída da presidência do
Conselho de Administração, em setembro.
A companhia nega que o aumento das reclamações em 2013 seja reflexo de
sua política de corte de despesas, elemento-chave da estratégia do
Casino para manter a agressividade nos preços nos países onde o grupo
atua e, com isso, atrair mais movimento nas lojas sem ter que sacrificar
a rentabilidade das operações.
E após a nomeação de Ronaldo Iabrudi como novo presidente-executivo da empresa, no fim de janeiro, analistas citaram possibilidade da redução de despesas no GPA ganhar ainda mais força.
Contratado como representante do Casino no Brasil em junho, Iabrudi já comandou a Telemar, atual Oi, e a Magnesita, de materiais refratários. Em ambas, implementou planos de reestruturação envolvendo demissões representativas e rígido controle financeiro.
Espaço para Rivais
Um alto executivo do setor que pediu para não ser identificado disse
que o corte de custos arrisca prejudicar a qualidade e variedade nos
supermercados do GPA. "Isso pode abrir oportunidade para outras
empresas, como St Marché, Mambo ou outra", afirmou ele, em referência a
redes de menor musculatura no país, mas com apelo ao atendimento e
sortimento diferenciado.
Em nota, o GPA negou que a estratégia de corte de custos esteja
afetando a qualidade das operações e afirmou que mantém o cliente no
centro das decisões da companhia. "Não há nenhuma orientação ou
movimento que represente a diminuição no nível de serviço das lojas, ou
seja, redução de pessoal no 'front office', e que possa comprometer a
experiência de compra", disse a companhia, em referência à equipe que
lida diretamente com o público.
Segundo último dado público do GPA, a média de colaboradores por loja
do grupo caiu para 79,4 em setembro, ante 81,5 no mesmo mês de 2012. À
Reuters, o GPA afirmou que fechou 2013 com um índice de rotatividade de
pessoal de 39 por cento, abaixo da média de mercado de 45 por cento.
"O GPA ... vem melhorando seus níveis de competitividade e ganhando
participação de mercado", disse a empresa. Além dos supermercados Pão de
Açúcar, Extra e Assaí, o GPA também é dono da Via Varejo, divisão de
móveis e eletrodomésticos que opera as bandeiras Ponto Frio, Casas Bahia
e Nova Pontocom, esta última de comércio eletrônico.
Tesoura na Mão, Vendas no Bolso
A decisão de diminuir custos para compensar a prática de preços mais
baixos vem ganhando força no Brasil, nos moldes da orientação adotada em
hipermercados franceses do Casino e nas operações da companhia na
Colômbia e Tailândia.
Nos nove primeiros meses de 2013, o peso das despesas com vendas,
gerais e administrativas sobre a receita líquida do GPA caiu para 19,6
por cento, ante 20,2 por cento em igual etapa de 2012. No mesmo
intervalo, as vendas líquidas da companhia cresceram 12,4 por cento, a
40,8 bilhões de reais.
O desempenho foi reconhecido pelo mercado. Em 2013, ano em que o
Ibovespa caiu 15,5 por cento, as ações do GPA avançaram 17 por cento.
A empresa tem a meta de reduzir as despesas gerais e administrativas e com vendas para 17 por cento da receita líquida em 2016.
Porém, para o consultor de varejo José Lupoli Jr., da Lupoli Jr. &
Consultores Associados, estratégias de baixo custo exigem padronização, o
que pode implicar menos opções de marcas e produtos para concentração
nos itens de maior giro, além de diminuição no nível de serviços ao
cliente, com o potencial de impactar o crescimento das vendas.
O consultor afirma que os brasileiros são fundamentalmente atraídos por
grandes promoções, mas não mostram a mesma sensibilidade para
diferenças diárias de preço nas grandes redes de varejo.
"O principal critério de escolha de um ponto de venda pelo consumidor é
a conveniência, nem mesmo o Walmart consegue repetir aqui (Brasil) a
mesma reputação de líder em custo como ocorre nos Estados Unidos",
afirmou Lupoli Jr.
Na semana passada, a rede norte-americana reduziu sua previsão de lucro
para 2013, citando o impacto do fechamento de lojas e encargos fiscais
trabalhistas no país.
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