De acordo com o sindicato, empresa inaugurou em 2013 plataformas que precisaram ser finalizadas em alto-mar, o que é mais caro e lento, além de menos seguro aos trabalhadores
13 de fevereiro de 2014 | 19h 53
Sabrina Valle, da Agência Estado
RIO - Última plataforma da Petrobrás a ser entregue, em
cerimônia em dezembro com a presença da presidente Dilma Rousseff, a
P-62 saiu do estaleiro incompleta. Não foi a primeira, segundo
sindicalistas. Por pressão política, para melhorar o saldo da balança
comercial e para dar satisfação ao mercado, as plataformas são
inauguradas inacabadas e depois finalizadas em mar - o que é mais caro e
lento para a empresa, além de menos seguro para trabalhadores.
"Precisam justificar ao mercado que a empresa vai ter capacidade de
produção nos próximos meses, tem muita pressão", diz o representante dos
trabalhadores no conselho de administração da Petrobrás, José Maria
Rangel, que levará o assunto a discussão na reunião do órgão no próximo
dia 25.
O diretor de segurança e saúde do Sindipetro-NF, Norton Almeida,
credita o lançamento ao mar de plataformas ainda não operacionais a
pressão política. No início do mês, ele embarcou na P-62 e conferiu
pessoalmente os problemas. O sindicato diz que o sistema náutico saiu do
estaleiro sem um cabo de ré, sem uma das amarras do sistema de
ancoragem de bombordo (lado esquerdo) e sem o sistema elétrico pronto,
entre outros itens.
O cabeamento de energia incompleto forçou, por exemplo, a instalação
de um gerador de energia que pegou fogo em janeiro, quando a plataforma
navegava em direção ao campo de Roncador, na Bacia de Campos. Foram 40
minutos para controlar o incêndio, ao lado de um tanque de diesel,
segundo Almeida. A unidade chegou à locação com duas semanas de atraso.
O sindicato diz que se a plataforma ficasse mais alguns dias no
Estaleiro Atlântico Sul (EAS, Pernambuco) muitos dos problemas poderiam
ter sido resolvidos, já que em terra milhares de operários podem
trabalhar simultaneamente, enquanto em mar a legislação internacional
limita a tripulação. A P-62 está com 160 homens embarcados e 20 em barco
de apoio. Além disso, a instabilidade marítima traz riscos para
manipulação de itens pesados e a distância torna toda a logística mais
cara e lenta. Hoje, qualquer parafuso precisa viajar 125 km da costa
para chegar ao destino final
"Não é um cálculo nada matemático, mas um serviço em mar pode levar
dez vezes mais tempo do que em terra, e custar dez, quinze vezes mais.
Tudo fica mais difícil", disse Almeida. O lançamento ao mar no Estaleiro
Atlântico Sul (EAS), em 30 de dezembro, fez cumprir, em calendário, o
compromisso da Petrobrás de pôr na água nove plataformas em 2013.
Em 31 de dezembro, foi lançada ao mar também a P-61, que saiu do
estaleiro BrasFels, na baía de Angra dos Reis (RJ), para o campo de
Papa-Terra, na Bacia de Campos. Também no último dia do ano a P-55
entrou em produção, às 22h30m, depois de ter sofrido reparos em mar.
Depois de concluída, a plataforma se enquadra num benefício
tributário (Repetro). As embarcações passam ao guarda-chuva de uma
subsidiária da Petrobrás na Europa e podem ser contabilizadas pelo País
como exportação, mesmo sem sair do país. Só no quarto trimestre, quatro
plataformas tiveram impacto de US$ 5,3 bilhões na balança comercial,
maior valor já contabilizado num trimestre.
As nove plataformas têm potencial para adicionar capacidade de até 1
milhão de barris/dia e são apresentadas pela Petrobrás como a promessa
da empresa para tirar a produção de petróleo da estagnação. Mesmo com o
pré-sal, há quatro anos a produção não descola dos 2 milhões de
barris/dia.
O Sindipetro lembra que o problema não acontece com plataformas
construídas por terceiros e afretadas (alugadas) pela Petrobrás. Estas
só vão ao mar prontas, mesmo quando construídas em estaleiros
brasileiros.
"Em maior ou menor grau, isso (ir ao mar inacabada) aconteceu com as
últimas 12 plataformas próprias da Petrobrás", disse Almeida, citando a
P-43, P-48, P-50, P-51, P-52, P-53, P-54, P-55, P-56, P-57, P-58 e P-63.
Procurada, a Petrobrás não se manifestou até o fechamento dessa
matéria.
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