terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A difícil reeleição de Dilma

O servilismo rafeiro de alguns institutos de pesquisa e setores dos autoproclamados formadores de opinião asseguram que Dilma Rousseff será reeleita. Os marqueteiros estipendiados, pelos milhões de reais, não ficam atrás. O marqueteiro-mor João Santana já definiu os dois candidatos oposicionistas como integrantes de um picadeiro de anões. Traduzindo em linguagem direta: Aécio Neves e Eduardo Campos seriam figuras liliputianas na vida política brasileira. Na área oficial, enquanto o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho adverte que o “bicho vai pegar”, a candidata Rousseff em 4/3/2013, confessava: “Nós podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição.”

Ante essa realidade, recorreremos à “restrição mental” de Santo Agostinho: “Consiste em dizer o que é falso com a intenção de enganar. É a ofensa mais direta à verdade.” Outro gigante do pensamento cristão Santo Tomaz de Aquino, complementa: “A mentira é a palavra ou sinal por que se dá a entender alguma coisa diferente daquilo que se pensa e com a intenção de enganar.” As eleições gerais desse ano vão comprovar que a mistificação, arrogância e incompetência na administração dos negócios públicos brasileiros podem ter os dias contados.

O atual governo brasileiro atingiu o limite máximo da irresponsabilidade, onde o desprezo pela opinião pública e a falta de compromisso com idéias inovadoras é marca registrada. A administração pública,  em todos os níveis, caminha para uma situação de quase pré-falência. Busca apenas o poder e a sua manutenção seria a consagração de um governo sem rumo e comprometido com a mediocridade refugadora de desafios. Vamos lá: rompimento dos princípios da ética e da moralidade; insegurança jurídica; declínio das atividades industriais; exportação de empregos para China e Índia; criação de ministérios de utilidade duvidosa em número recorde na história brasileira; endividamento público recorde; inflação ascendente e alta de preços com regularidade empobrecendo a classe média; falência do ensino e da assistência pública à saúde são fatos normais e ignorados pelos detentores do poder.

A oposição brasileira, na expressão das candidaturas postas, não pode tergiversar no enfrentamento desse descalabro de incompetência reinante. Precisa falar com incisividade em sintonia com o clamor popular que hoje vive situação de orfandade. Os idos de junho de 2013 comprovaram essa verdade. Demonstrar que falta ao Brasil um projeto de país que redefina o futuro que urgencia ser planejado com competência.  Remodelando a estrutura e a infraestrutura do Estado. Nos últimos anos nenhuma obra de grande importância na infraestrutura foi concluída. 

Os portos e rodovias estão, em sua maioria, em situação de calamidade. Os hospitais e escolas públicas vivem penoso ciclo de desintegração. Na agricultura obtemos a cada ano safras recordes, mas os caminhoneiros que transportam essa riqueza para os portos esperam dias para descarregar. Agravado com a falta de estrutura de armazenamento.

E mais: das obras festejadas pelo marketing, a transposição do rio São Francisco é um engodo, afetando a vida de milhões de nordestinos. A ferrovia Norte Sul, se aproximando dos 30 anos, está longe de ser realidade. Tudo isso comprova que os brasileiros, em termos de gestão pública, convivem com um ciclo de “incompetência vitoriosa”, pela manipulação da verdade, propaganda massacrante e marqueteiros sendo os grandes agentes do “planejamento nacional.”

Por tudo isso e muito mais, dificilmente Dilma Rousseff será reeleita. Nas três últimas eleições presidenciais, a oposição no segundo turno, teve a variável de 40 a 45% dos votos. A região nordestina marchava quase unida com a candidatura do PT. Pernambuco, Bahia, Ceará, Maranhão, garantiam votação entre 70 a 80%. Agora o quadro mudou. Em Pernambuco, a candidatura de Eduardo Campos quebrou essa unanimidade. E até o Rio de Janeiro, onde em 2002, 2006 e 2010, o voto em mais de dois terços era dos candidatos petistas (Lula e Dilma), a situação está mudando. Em outros Estados o cenário que vem se desenvolvendo na chamada base aliada com rupturas, destacadamente  no PMDB, não oferece situação de tranquilidade para o governo. O instinto de sobrevivência das elites políticas e empresariais brasileiras é como girassol, vivem cultivando o sol. E o que nasce é mais poderoso do que aquele que se recolhe no fim do dia.      
  
Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira e suplente do Senador Alvaro Dias

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