Banco Central afirmou que é "apropriada" a continuidade dos ajustes na política monetária bem como é preciso seguir "especialmente vigilante"
São Paulo - A inflação,
mesmo com os recentes sinais de arrefecimento, continua mostrando
resistência e "ligeiramente acima" do esperado e, deste modo, o Banco Central afirmou
que é "apropriada" a continuidade dos ajustes na política monetária bem
como é preciso seguir "especialmente vigilante", indicando nova alta na
taxa básica de juros.
A avaliação foi feita por meio da ata da reunião da semana passada do
Comitê de Política Monetária, divulgada nesta quinta-feira. Apesar de o
Copom ter optado por desacelerar o ritmo de alta da Selic, a ata deste
encontro tem muitas semelhanças com o documento anterior, de janeiro.
"Não obstante moderação observada na margem, a elevada variação dos
índices de preços ao consumidor nos últimos doze meses contribui para
que a inflação ainda mostre resistência, que, a propósito, tem se
mostrado ligeiramente acima daquela que se antecipava", trouxe a ata
divulgada nesta manhã. Na anterior, o BC não mencionava esse
arrefecimento nos preços.
"Dessa forma, o Copom entende ser apropriada a continuidade do ajuste
das condições monetárias ora em curso." O BC reduziu o ritmo de aperto
monetário na semana passada, ao elevar a Selic em 0,25 ponto percentual,
a 10,75 por cento ao ano. Nas seis decisões anteriores, havia optado
por aumentos de 0,5 ponto da Selic. O atual ciclo de aperto monetário
começou em abril passado, quando a taxa básica de juros estava na mínima
histórica de 7,25 por cento.
"Não vi nenhuma sinalização de parar (o ciclo de aperto monetário)... A
ata veio muito parecida com a anterior", afirmou o economista-chefe do
banco J. Safra e ex-secretário do Tesouro, Carlos Kawall, para quem a
Selic será elevada em mais 0,25 ponto em abril e depois novamente em
dezembro, com mais uma alta de 0,50 ponto, para encerrar o ano a 11,50
por cento.
No mercado de juros futuros, após a divulgação da ata, aumentaram as
apostas de mais uma alta da Selic de 0,25 ponto percentual em abril,
quando o BC de reúne novamente. Na véspera, elas estavam em 60 por
cento, por volta das 11h, passavam a 80 por cento. O restante esperava
manutenção da taxa.
O IPCA-15, prévia da inflação oficial do país, acumulava alta de 5,65
por cento em 12 meses até fevereiro. A meta de inflação do governo é de
4,5 por cento pelo IPCA, com margem de 2 pontos percentuais para mais ou
menos.
Pela ata, o BC informou também que suas projeções de inflação
continuaram acima do centro da meta do governo, mas fez alguns ajustes,
sem mostrar os números efetivamente. Para 2014, no cenário de
referência, a conta se manteve "relativamente estável" e, para 2015, ela
foi reduzida.
Ainda de acordo com a ata, o Copom manteve a projeção de estabilidade
nos preços da gasolina em 2014, assim como a perspectiva de reajuste de
7,5 por cento na tarifa residencial de eletricidade.
Segundo a ata, o BC também voltou a defender que "a política monetária
deve se manter especialmente vigilante", mas também ponderou que "os
efeitos das ações de política monetária sobre a inflação são cumulativos
e se manifestam com defasagens". Na ata anterior, neste trecho, ele não
fazia menção aos efeitos "cumulativos".
Tensão
O BC também voltou a informar que os riscos para a estabilidade
financeira global continuam "elevados", mesmo vendo baixa probabilidade
de ocorrerem eventos extremos, mantendo as perspectivas de atividade
global "mais intensa ao longo do horizonte relevante para a política
monetária".
O BC também destacou que as perspectivas indicam moderação na dinâmica
dos preços de commodities nos mercados internacionais, "bem como que,
nos mercados de moeda, há evidências de tensão e de volatilidade".
O BC também voltou a afirmar que a política fiscal do governo, "no
horizonte relevante para a política monetária", pode se deslocar para a
neutralidade. No mês passado, o governo anunciou a nova meta de
superávit primário deste ano, a fim de tentar resgatar a confiança dos
agentes econômicos.
O Copom também voltou a afirmar que seu cenário central inclui expansão
moderada do crédito e considera "oportunas" as ações para moderar os
subsídios nas operações de crédito.
"A ata de hoje trouxe apenas pequenas alterações. Embora não seja um
compromisso firme de elevar novamente, a ata claramente deixa a porta
aberta para outra elevação em abril", afirmou o diretor de pesquisa
econômica do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos,
ressaltando que a inflação projetada pelo BC permanece acima da meta até
o final de 2015.
Nesta ata, o BC passou a retirar a parte "Sumário dos Dados Analisados
pelo Copom", por considerá-la uma redundância das informações.
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