Atualizado em 6 de setembro, 2013 - 12:14 (Brasília) 15:14 GMT
A presidente Dilma Rousseff
condicionou sua visita oficial aos Estados Unidos, programada para
outubro, a ações que a Casa Branca teria de tomar, segundo Brasília, em
resposta ao escândalo desatado pelas denúncias de que mensagens da
Presidência brasileira teriam sido monitoradas pela Agência Nacional de
Segurança americana (NSA).
Dilma encontrou-se o com o presidente dos EUA,
Barack Obama, na noite de quinta-feira, durante a reunião de Cúpula do
G20 em São Petersburgo, na Rússia.
Ela diz ter exigido do presidente
americano que Washington abra "tudo" o que tem sobre o Brasil. "Eles vão
me informar o tamanho do rombo", disse a presidente no início da tarde
desta sexta-feira no aeroporto de São Petersburgo, antes de embarcar de
volta a Brasília. "Quero saber tudo o que há sobre o Brasil. Acho
complicado ficar sabendo dessas coisas pelos jornais."
De acordo com Dilma, Obama teria assumido a
"responsabilidade direta e pessoal" pelas investigações sobre as ações
de espionagem, comprometendo-se tanto com a apuração das denúncias
quanto com a adoção de medidas que o governo brasileiro ache
necessárias.
O presidente americano também teria manifestado
disposição em criar "condições políticas" para a visita de outubro.
"Minha viagem depende dessas condições políticas", afirmou Dilma.
Em entrevista coletiva nesta sexta na Rússia,
Obama disse levar as alegações de espionagem "muito a sério", que vai
trabalhar com os governos de Brasil e México (que também teria sido
espionado) para "resolver essa fonte de tensão" e que considera "dar um
passo atrás e rever" o trabalho dos serviços de inteligência dos EUA.
"Não é só porque temos a possibilidade de obter
uma informação que devemos consegui-la. Pode haver custos e benefícios
de fazer certas coisas, e temos que pesar isso", disse. E agregou que o
episódio não supera "a grande quantidade de interesses que
compartilhamos com esses países (Brasil e México)".
"Há um motivo pelo qual fui ao Brasil e convidei
a presidente aos EUA. O Brasil é um país incrivelmente importante, uma
incrível história de sucesso de transição de um governo autoritário à
democracia, uma das economias mais dinâmicas do mundo e, para as duas
maiores economias do hemisfério, ser aliados só traz bem aos seus
povos", declarou Obama.
Os dois líderes teriam acertado que até
quarta-feira será feito um contato entre o chanceler brasileiro, Luiz
Alberto Figueiredo, e a assessora para Assuntos de Segurança dos EUA,
Susan Rice, para que o governo americano apresente formalmente sua
proposta de resposta ao escândalo.
Se necessário, os próprios presidentes também voltariam a se falar.
A partir dessa apresentação formal, o governo
brasileiro avaliará se mantém ou não a visita. Dilma não estabeleceu,
porém, nenhum prazo para que a decisão final seja tomada.
Tema global
A presidente brasileira também contou que manifestou a Obama sua "indignação" com as denúncias sobre o monitoramento de suas mensagens.
Segundo ela, o tipo de relação que os dois
países mantinham era incompatível com atos de espionagem e estes
colocaram em risco "interesses econômicos do Brasil, a soberania do país
e direitos civis": "É estarrecedor por se tratar de um país que tem na
sua Constituição a proteção às liberdades civis", disse. "É gravíssimo
espionar um pais democrático, não há como alguém possa defender isso."
Dilma também teria reiterado que seu governo
pretende ir a fóruns internacionais como a ONU para propor mudanças na
governança da internet. Ela defendeu que o tema precisa ser tratado de
forma global, porque "extravasa a relação bilateral entre o Brasil e os
Estados Unidos".
"Todos os países estão ameaçados de estarem sendo ou terem sido espionados", afirmou.
"O que ocorreu com o Brasil é um fato gravíssimo
porque o Brasil é uma forte, sólida e grande democracia, que convive há
mais de 140 anos em harmonia com os vizinhos. Não tem conflitos étnicos
e religiosos e não abriga grupos terroristas. Isso joga por terra
qualquer justificativa de que tais atos de espionagem seriam
(realizados) para combater o terrorismo."
Casa Branca
O encontro entre Dilma e Obama também foi
comentado, ainda que com menos detalhes, pelo vice-assessor de Segurança
Nacional americano, Ben Rhodes, que afirmou que seu país "entende o
quão importante o tema é para os brasileiros".
"Entendemos a força do sentimento deles sobre
isso", afirmou. "Nós nos focamos em deixar claro - para que os
brasileiros entendam - exatamente qual a natureza de nossos esforços de
inteligência."
Segundo Rhodes, o governo americano trabalhará
com o brasileiro para solucionar a questão "por meio de canais
diplomáticos e de inteligência".
O presidente do México, Enrique Peña Nieto, que
também teria sido vítima da espionagem da NSA, segundo os documentos
divulgados pelo jornalista americano Glenn Greenwald, afirmou que os
Estados Unidos precisarão apresentar medidas fortes para tentar desfazer
os danos causados às relações bilaterais pelo caso.
"O governo mexicano pediu aos Estados Unidos que
conduzam uma investigação plena sobre quem é responsável pela
espionagem, se ela realmente aconteceu", afirmou Peña Nieto em uma
entrevista à TV russa.
O líder mexicano disse ter questionado Obama
sobre "ações que o governo americano poderia tomar para estabelecer essa
investigação": "Algumas medidas precisam ser tomadas, precisa haver
consequências."
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