É hora de comprar dólar? Quando ultrapassou os R$ 2,40, há três
semanas, muitas empresas exportadoras acreditaram que sim e correram
para o mercado futuro para "travar o câmbio", ou seja, para garantir que
vão vender seus produtos nos próximos dois meses a preços mais
competitivos. Nesta semana, com a moeda americana valendo menos de R$
2,30, foi a vez de os investidores nacionais correrem para o mesmo
mercado futuro para fazer o que no jargão é conhecido como "montar
posições compradas", ou seja, apostar que daqui por diante o dólar vai
subir. Já subiu ontem, depois de seis dias de queda, e fechou o dia
valendo R$ 2,2860.
Em poucas semanas a valorização do real foi de 5%, uma das maiores
entre as moedas emergentes. Já chegou a cair 20% neste ano, também uma
das maiores do mundo, em boa parte incentivada pelos movimentos nos
mercados futuros. Para cima ou para baixo, estudos dos bancos Itaú e
Santander mostram que o fato de o Brasil ter um dos mercados mais
líquidos do planeta faz com que o País tenha maior variação de sua moeda
em movimentos globais. E não é diferente neste momento em que o mundo
vive sob a expectativa de quando o Fed, o banco central dos Estados
Unidos, vai começar a reduzir seu programa de afrouxamento monetário,
que injeta todo mês US$ 85 bilhões no país, tornando a liquidez global
mais acentuada.
O programa americano começou em 2008 e, de lá para cá, segundo dados
do Fundo Monetário Internacional (FMI), cerca de US$ 1,1 trilhão
chegaram aos mercados emergentes. Esse fluxo fez com que as moedas
desses países se valorizassem.
Valorização
Dados compilados pelo banco Itaú mostram que a moeda brasileira
chegou a se valorizar 41% em relação ao dólar (base de 2007), enquanto
seus principais concorrentes mundiais não chegaram a 30%. Na Índia, por
exemplo, o auge da valorização foi de 27%, na Indonésia, de 26%, e no
Chile, de 23%. Estudos do Santander vão na mesma direção. A economista
do banco Adriana Dupita diz que a cada 10% de valorização ou
desvalorização de uma cesta de moedas de emergentes, o real sobe ou
desce 16%.
O mercado brasileiro é o segundo mais líquido, só atrás dos Estados
Unidos, atraindo fortemente o capital estrangeiro, segundo o professor
Pedro Rossi, da Universidade de Campinas. Ele diz que o mercado futuro
chega a movimentar três vezes mais do que o mercado à vista,
influenciando diretamente a cotação. "O Banco Central deveria buscar
enfraquecer esses movimentos especulativos e dar mais liquidez ao
mercado à vista", diz.
Desde a crise de 2008, o BC vem tentando controlar o câmbio. Impôs
barreiras em 2010, como a cobrança de imposto sobre operações
financeiras (IOF), que foi um dos fatores que manteve o dólar na casa
dos R$ 2,00 em 2012. Neste ano, com os fluxos se esvaindo, a decisão foi
no sentido contrário e, desde que retirou o IOF das operações de renda
fixa, atraiu US$ 20 bilhões ao País.
Os fluxos médios mensais de dólares têm se mantido em uma média de
US$ 5 bilhões, segundo levantamento da LCA Consultores, desde 2009.
Quase o dobro de anos anteriores. Esse número considera os investimentos
diretos e os fluxos para aplicação em ações e títulos de renda fixa.
Mas é hora de comprar dólares? A moeda caiu na semana passada em
função de bons dados da China, que afetam a economia global e, portanto,
dão mais otimismo.
O economista Luiz Carlos Mendonça
de Barros, que foi ministro do governo Fernando Henrique Cardoso e
também operador do mercado financeiro, é assertivo em dizer que os
movimentos especulativos têm data, e é o do dia 18 de setembro - quando o
Fed pode tomar uma decisão final sobre o programa monetário. "Depois do
dia 18 não tem mais como especular", diz ele. "Compre no boato e venda
no fato." Na média, economistas e bancos estimam que o dólar feche o ano
valendo entre R$ 2,30 e R$ 2,40. Para o próximo ano, subiria a R$ 2,50.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário