Ricardo Whiteman Muniz, via Diário do Centro do Mundo
Um alerta para você perceber a tempo que pode estar fazendo o jogo de (seu) inimigo.
Você que é classe média, seja a favor da redução de impostos, sim:
menos impostos para a classe média e imposto zero para famílias pobres,
para periferias. Defenda mais imposto para ricos. Essa agenda, a da
tributação progressiva, a da justiça tributária – paga mais quem tem
mais –, é sua. Assim é que vai se financiar a melhoria dos serviços
públicos. Não caia na conversa fiada de que imposto para rico, banco,
fazenda e empresa é um fardo que inviabiliza a competitividade econômica
– na verdade, eles nunca serão a favor de abrir mão de qualquer parte
de seus ganhos e lucros, evidentemente, e se pudessem não pagariam nada.
Repare como os jornais, a tevê, nunca debatem esse tema. Ou melhor, até
debatem, mas quando o fazem é sempre do ponto de vista do andar de
cima. É um sinal, não acha?
Você que é classe média, seja sim a favor do combate à corrupção: a
compra de jornais ditos independentes por políticos que tentam tapear
você manchete após manchete vendendo como notícia o que é manobra de
blindagem; a chantagem de promotores que ameaçam com denúncias para
amealhar fortunas; o financiamento privado de campanhas eleitorais, que
torna os representantes no parlamento marionetes dos mais diversos
interesses empresarias ou de máfias. É óbvio, mas repare que (quase)
ninguém defende uma correção radical dessa anomalia.
Classe média, não seja complexado(a). A síndrome de vira-lata em
relação ao Brasil é sistematicamente alimentada no contexto de uma
estratégia geopolítica. Claro, seja crítico. Mas não seja derrotista,
envergonhado. Você nasceu aqui, ou veio viver aqui: defenda seu lugar.
Repare que muitas vezes o noticiário que você lê, ouve ou vê, embora
seja veiculado em português, parece ter sido produzido fora daqui. Não é
curioso?
Você que é classe média, seja conservador. Conserve o que vale a pena
ser conservado: a Constituição, por exemplo, ou a política de
distribuição de renda, ou a excelente concepção do SUS. Lembre que
certos tribunos da República de hoje promoveram há pouco tempo a compra
de votos para aprovar a reeleição presidencial no curso do primeiro
mandato do maior interessado na mudança. Isso que é subversão! Note que
forçar condenações sem provas e espernear contra o direito de recorrer é
inconstitucional. Isso é subversão. Entenda que educação e saúde
públicas, universais e de qualidade liberariam seu orçamento de classe
média de um grande fardo. Lembre quem derrubou a CPMF, que financiaria a
saúde pública. Pense em quem nunca investiu na expansão das
universidades federais. Faça esse esforço e você vai perceber que estão
tentando fazer você de bobo. Ser feito de bobo da corte parece ser um
papel histórico da classe média que você pode romper, para seu próprio
benefício.
Ricardo Whiteman Muniz é jornalista, bacharel em Direito (USP) e trabalha no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp.
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