Na medida em que envelhecemos, não temos mais que evitar a tentação. Ela mesma nos evita” (Autor Desconhecido)
Scott Fitzgerald publicou em 1922 um pequeno clássico que deu origem ao filme O Curioso Caso de Benjamin Button,
grande sucesso nos cinemas quando foi lançado por aqui. A história
conta a jornada de Benjamin, uma criança que nasce misteriosamente velha
e é deixada numa instituição para idosos pelo pai, horrorizado pela
aparência da criança e fragilizado pela morte da esposa durante o parto.
Benjamin não é por dentro o que representa externamente. A vida desta
criança é complicada, vive num corpo senil e rejuvenesce a cada dia.
O filme é uma história recheada de aventuras, descobertas e paixões,
mas também é uma metáfora da força do tempo, que neste caso
voluntariamente conspira a favor desta criança idosa, pois cada dia
vivido é um dia ganho em aparência e em experiência que se consolida.
É possível aqui fazer uma reflexão sobre a ação do tempo no ambiente
de trabalho – trata-se de um exercício bem interessante, pois em funçao
do tempo, todos temos que gerenciar a questão da maturidade, da
experiência no mercado de trabalho, só que ao invés da vantagem
oferecida a Benjamin, nós os experientes profissionais do mercado o
tempo nem sempre conspira a nosso favor – a fórmula experiência versus
juventude nem sempre mostra um resultado favorável para nós,
considerados “jurássicos” nalgumas rodas, vamos e venhamos! Benjamin tem
que passar a vida entre o conflito de não ser por fora o que é por
dentro, e isto é exatamente o que nós, profissionais “experientes”,
tentamos mostrar o tempo todo – que não somos o que nossa idade
cronológica aponta, muito pelo contrário, queremos fazer e acontecer,
por que não?
Claro que não temos o vigor dos primeiros anos de trabalho – mas em
tempos de discussão de qualidade de vida, quem é mesmo que quer
trabalhar 15 horas por dia? Porém, se não temos a energia da juventude,
temos a experiência da maturidade, a flexibilidade, a calma para tomar
decisões mais acertadas e guiadas pela lógica, não pelo impulso de
“fazer bonito” ou “mostrar trabalho”. Consigo visualizar a luta dos
Benjamin Buttons no mercado de trabalho. Consigo vê-los redigindo um
currículo resumido, omitindo alguns feitos memoráveis, porque sua
história completa daria muitas páginas e os headhunters dizem que
o currículo só pode ter duas. Vejo este profissional apresentando uma
versão compacta, algo como “melhores momentos” de sua carreira
profissional. E vai para a entrevista, animado como uma criança
visitando o zoológico pela primeira vez ou talvez com a excitação
juvenil do primeiro encontro romântico.
Mas isto é por dentro, porque por fora, eles têm rugas, eles podem
ter cabelos grisalhos, mas eles estão lá, firmes e fortes – ansiosos por
um lugar ao sol, querendo mostrar para todo mundo que a idade nunca foi
impedimento para nada, que eles não têm culpa se tudo aconteceu tão
rápido. Oras, ontem eram jovens universitários, dormiram e acordaram
hoje com 50 anos – praticamente da noite para o dia, ninguém viu,
ninguém sabe como aconteceu, mas tudo passou a jato. De quem é a culpa?
Sobre a autora:
Gladis Costa, Gerente de Marketing e Comunicação da
PTC para a América Latina. A PTC é líder no segmento de soluções para o
gerenciamento do ciclo de vida do produto. Em março de 2009 criou o
grupo “Mulheres de Negócios”, maior rede feminina de negócios do portal
LinkedIn com mais de 4600 associadas. É colunista em vários sites onde
publica artigos sobre marketing, serviços, comportamento, carreira e
cultura. É formada em Letras pela Unesp, com pós-graduação em
Jornalismo, Comunicação Social e especialização em Tecnologia e Negócios
pela PUC-SP. Em 2005 lançou seu primeiro livro de crônicas, “O homem
que entendia as Mulheres”.
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