A presença de construtoras como prestadoras de serviço público não é novidade. Mas, nos últimos leilões federais, elas se mostraram mais agressivas do que nunca
Construção de uma rodovia: trabalhar com a prestação do serviço público inspirou a criação da Odebrecht Transport, braço do grupo voltado aos setores de rodovias, por exemplo
São Paulo - A presença delas não chega a ser uma novidade. Desde os anos 90, as construtoras se
organizam para atuar como prestadoras de serviços públicos. Mas, nos
últimos leilões federais de estradas e aeroportos - e tudo indica que
ocorrerá o mesmo nos de ferrovias e portos -, elas estão mais agressivas
do nunca. Reinam absolutas.
Para os especialistas, mais do que um mero movimento para aproveitar a
demanda por obras públicas - o negócio de sempre -, as empreiteiras
vivem uma mudança no perfil de atuação, mudança essa que tende a levar o
serviço público, sempre muito deficiente, a um novo patamar de
qualidade.
Segundo o economista Gesner Oliveira, a mudança é estrutural. Oliveira
foi um dos coordenadores do livro Parcerias Público-Privadas -
Experiências, Desafios e Propostas, que, apesar do nome, também
contextualiza o impacto das privatizações e das concessões sobre a
dinâmica da economia nacional. "Estamos saindo da era da infraestrutura
como obra e transitando rumo à era da infraestrutura como serviço e boa
operação", diz ele.
Isso significa que empresas, antes interessadas em apenas fazer a
infraestrutura, estão cada vez mais organizadas para operar o serviço
público. "É um movimento positivo porque, nesse processo, se adquire uma
nova mentalidade: se você vai operar, você constrói da melhor maneira
possível - mais barata, mais eficiente, mais rápida - e também se
aproxima do cliente, se preocupa com a satisfação dele", diz Oliveira.
"É um grande avanço se lembramos que durante décadas vimos muita
inauguração de obra que não rendeu bons serviços."
"Entendemos que podemos ir além da fase de construção", diz Paulo Cesena, presidente da Odebrecht Transport. "O Brasil tem carência na qualidade de serviços públicos e a iniciativa privada, por natureza, tem agilidade e capacidade de inovação para contribuir."
O peso da Odebrecht Transport nos negócios do grupo dá uma dimensão da reformulação em curso. A empresa tem hoje 17 ativos (já incluindo os dois arrematados nos últimos leilões). Seu faturamento hoje gira na casa dos R$ 2 bilhões. Não é uma quantia inexpressiva, mas equivale a meros 2% do resultado do grupo, que fatura R$ 100 bilhões.
Os investimento da Transport, porém, contando a nova estrada e o aeroporto, já correspondem a 18% de toda a carteira de investimentos do grupo Odebrecht nos próximos três anos.
Nova rota
Os contratos de concessão também funcionam como uma espécie de proteção para as construtoras, explica José Antunes Sobrinho, um dos sócios da Engevix. "A construção civil é um negócio instável, sensível ao desempenho da economia e à intenção do governo", diz ele. "Com contratos de longo prazo, a receita é mais previsível."
A Engevix nasceu como prestadora de projetos de engenharia em 1965. Em 2011, criou uma empresa para administrar concessões, a Infravix. A companhia tem participações nos aeroportos de Brasília, São Gonçalo do Amarante e na concessionária ViaBahia, dona de 680 quilômetros de rodovias. Hoje, entre 5% e 7% da receita total do grupo, de R$ 3 bilhões, vem de concessões.
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